sexta-feira, abril 29, 2011

Comum

Naquele ínico de tarde, totalmente comum a todos os outros, estava no mesmo lugar a esperar. Sozinha. Subiu de má vontade naquele transporte e se sentou no lugar mais escondido, esperando que ninguém se sentasse ao seu lado. E como sempre sua vontade foi contrariada. Um homem grande, e um tanto peculiar sentou-se ao seu lado. Tentou se encolher contra o vidro sujo, queria assumir sua condição. Ali encolhida o sol batia-lhe na face, não a irritava, acolheu-o de bom grado. Distraiu-se. Não queria lembrar. Apenas não. E todos aqueles nãos e nuncas a circundavam. Sentindo uma raiva enorme por seu próximo ato, deixou uma lágrima cair. Tentou dormir, mas ainda a circundava, aqueles nãos e nuncas. Fechou os olhos com medo. Sim, medo de que vissem aquilo. Não queria ser vista, queria ser invisível. Já tinha sido por muito tempo porque não agora? Encolheu-se mais ainda contra a janela. O sol ainda sobre sua face aqueceu-lhe o corpo. Aqueceu-lhe até a alma. E mais uma porção de lágrimas cairam. Fechou os olhos de novo. Era invisível. Satisfez-se em sua invisibilidade e adormeceu entre a face enxuta. O homem ao seu lado observa de forma curiosa. Barulho. Despertou do seu estágio de invisibilidade. O que é agora? Ainda sonolenta ouviu aquele riso doce. Sim um riso doce e inocente. Viu uma pequena menina no colo de sua mãe, se preocupando apenas em falar seu próprio nome. Lembrou-se então da infância esquecida. E pensou na pequena criança. Será que para isso que nascemos? Mais um par de lágrimas rolaram pela face agora entristecida. Sim um dia aquela doce criança choraria como ela, e talvez se sentisse só também. Um turbilhão. Mil coisas passavam por sua cabeça enquanto o sol ainda brilhava pela janela. Daquela tarde comum, no usual transporte. E fechando os olhos adormeceu. Sozinha

Um comentário :